Luciano Lima

Desafios para a oposição em Pelotas

Luciano Lima
Advogado, mestre em Ciência Política, secretário de Assuntos Internacionais do PT/RS
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Desde 2005, uma coalização de centro-direita tem administrado Pelotas a partir de uma aliança em 2004 de frações rivais das elites econômica e política da cidade, materializada na chapa Bernardo de Souza e Fetter Jr. Assim, se interrompeu o projeto popular liderado pelo PT sob a direção de Fernando Marroni, que capitaneava uma administração eficiente e bem avaliada.

Desde então, essa coalizão de direita mantém-se consideravelmente estável, mesmo tendo em seu interior fissuras eventuais contornadas, em boa parte, com a criação recorde de cargos em comissão, bem além do razoável necessário à boa administração pública.

Depois de Bernardo de Souza, foram eleitos na sequência Fetter Jr., Eduardo Leite e Paula Mascarenhas, levando a um ciclo que completará 20 anos ao final do atual mandato. Além da arquitetura política, outros dois fatores de caráter nacional explicam essa continuidade. Paradoxalmente, foi a política dos governos Lula e Dilma, de disponibilização de recursos federais para obras de infraestrutura nas cidades, que garantiu o apoio eleitoral às sucessivas candidaturas da coalizão atualmente liderada pelo PSDB. Posteriormente, é a onda conservadora de extrema-direita que permite, com isolamento do PT, a manutenção da força eleitoral dos atuais administradores da Prefeitura.

Mas se tudo o que é sólido se desmancha no ar, como dizia o velho Marx, imaginem o que não é sólido. E acordos entre frações das elites, por mais tempo que possam durar, não são nada sólidos, como não é sólida a conquista de apoio eleitoral com base no resultado de políticas as quais se é contra. E parte dessa estrutura já começou a desmanchar.

Na eleição municipal de 2018, a esquerda saiu do isolamento e voltou a disputar o segundo turno com uma unidade inédita entre os partidos populares em apoio à candidatura de Ivan Duarte, do PT, além da eleição pelo PSOL da vereadora e do vereador mais votados da cidade.

Em 2022 Lula venceu em Pelotas, já Eduardo Leite reduziu pela metade sua votação ao governo do Estado na cidade. Fernando Marroni, mesmo não tendo se reelegido, foi o candidato mais votado para a Assembleia Legislativa em Pelotas, seguido de Fernanda Miranda do PSOL e, ainda durante o processo eleitoral, ocorreu a filiação ao PT do ex-reitor da UFPel, Pedro Hallal, que se tornou referência nacional na defesa da ciência contra o obscurantismo bolsonarista.

Frente ao surgimento desse cenário mais positivo, dois desafios se impõem à oposição. O primeiro é a consolidação e aprimoramento da unidade política eleitoral do campo de esquerda e centro-esquerda, necessário trabalhar incessantemente para agrupar PT, PCdoB, PSOL, Rede, PDT e o PSB em uma frente unificada.

O segundo é construir uma estratégia comum e eficaz de ação. Hoje se percebe certa dispersão, vê-se lideranças produzindo críticas e movimentos contundentes, ao mesmo tempo que outras estão perdidas na ideia pueril de uma "oposição colaborativa" e outras exercem mera crítica pontual em pautas corporativas. É preciso que a oposição defina um eixo político de denúncia, que revele a péssima qualidade dos serviços públicos, o arrocho do funcionalismo e a retirada de direitos dos cidadãos como resultados das últimas administrações e seu alinhamento nacional ao neoliberalismo que levou à situação de empobrecimento da população e depreciação dos serviços básicos desde o golpe de 2016.

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